A temática deste GT é ampla e abrange conteúdos fundamentais para o entendimento do espaço urbano no mundo contemporâneo. Esse grupo de trabalho está aberto ao debate entre as várias correntes de pensamento da Geografia Urbana voltadas para essa temática específica, com suas novas problematizações e debates interdisciplinares para o entendimento das atuais conjunturas socioespaciais e políticas que alteram a vida coletiva urbana. Em síntese, as novas formas e processos que atingem a economia urbana, o trabalho, o comércio e o consumo no período atual tornam-se elementos fundamentais na formulação e reelaboração de teorias sobre a urbanização e a cidade. Daí a importância de reunir reflexões conceituais e estudos empíricos que deem ênfase a esses aspectos.
Consideramos importante destacar algumas questões relevantes – diante da diversidade de problemas a serem tratados por esse GT – para que possamos conferir certa unicidade ao debate a ser desenvolvido.
A maneira como as forças produtivas de uma sociedade se encontram organizadas para a sua reprodução se constitui em ponto de partida para se entender o espaço apropriado para esse fim. O espaço urbano, fruto das relações de produção existentes no atual momento de desenvolvimento do capitalismo, é a condição fundamental para sua reprodução.
Observa-se, cada vez mais claramente, que nesse momento de financeirização do sistema capitalista, o espaço urbano passa a ter uma importância vital na condição de mercadoria para a reprodução do capital. A financeirização da economia alterou as condições de trabalho não apenas em suas dimensões técnicas, territoriais, como também no que tange à participação nos frutos da produção; as desregulamentações ocorridas no âmbito trabalhista revelam uma precarização que se acentua a cada dia. Tudo isto buscando atender às receitas impostas pelo neoliberalismo que só tem aumentado a concentração financeira.
No âmbito comercial, isto se torna evidente no espaço urbano. Mudanças substantivas no sistema de distribuição estão reconfigurando as bases territoriais. Surgem novas firmas e formas de trabalho artesanais e comerciais, atuando em diversas escalas geográficas, criando associativismos e relações em rede, gerando concentrações no espaço urbano de caráter multifuncional, ampliando a complexidade entre a estruturação e as articulações no espaço, consolidando a diferenciação espacial entre a hierarquia e heterarquia urbanas. A concentração financeira, dado basilar das novas estruturas empresariais, polariza a distribuição correspondente ao pequeno comércio e às formas mais simples de produção de mercadorias (a artesanal), evidenciando uma mutação comercial que associa o setor privado da economia a ações públicas mediante políticas de reestruturação urbana que requalificam e revalorizam o espaço. Em face dessa dualidade nas cidades e na distribuição, o comércio popular também se reorganiza, instituindo novas formas de inserção na economia urbana, capitalizando-se e incorporando técnicas e logísticas de distribuição. Esses espaços produtivos e/ou comerciais se constituem na condição de reprodução social futura.
No que tange ao consumo urbano, as mutações também se tornaram evidentes. As redes globais de informação dão forma a novos consumidores cuja participação na sociedade assume proeminência nas estratégias mercantis. Somam-se a isso as dimensões econômica e social, a valorização de uma cultura do consumo. Diante da multiplicidade de mercadorias a consumir o indivíduo define-se como um elemento fundamental no processo que envolve produção, distribuição e consumo urbanos e as marcas nesse aspecto tem um papel relevante, não só nas mercadorias de consumo imediato, mas também porque passam a “marcar” determinados espaços urbanos que se tornam referências (como os shopping-centers) para outros espaços da cidade que buscam se assemelhar a eles.
Nessas circunstâncias, o espaço da vida cotidiana apresenta-se redefinido e se redefine com muita rapidez. O consumidor está constantemente diante de novas possibilidades de participação no consumo, através do que consolida (ou não) novos espaços comerciais e esta é uma dimensão fundamental ao desenvolvimento do atual momento do capitalismo.
A expectativa desse GT é, portanto, a de que o debate contribua para a reflexão da epistemologia da Geografia que se produz nesse século XXI, tarefa fundamental para avançar o campo teórico-metodológico e orientar o sentido de nossas ações.